Um Blog Guia para Portos & Destinos ao Redor do Mundo
Hiroshima e Miyajima: Entre a História que Marca e a Beleza que Encanta
Neste artigo, compartilho em detalhes minha experiência em Hiroshima, uma das escalas mais marcantes da minha vida a bordo. Falo sobre a chegada de navio a um dos portos mais icônicos do Japão, o tour guiado até a encantadora ilha de Miyajima, o impacto de ver de perto o santuário flutuante e caminhar por seus templos em silêncio respeitoso. Também dou dicas para quem prefere explorar o centro por conta própria, com sugestões de atrações, tempo de visita, custos e o que esperar da logística e da atmosfera da cidade. Aqui, o passado e o presente se encontram de maneira profunda, e cada passo ecoa história, beleza e respeito. Um destino que não é só bonito — é inesquecível.
ÁSIAJAPÃOHIROSHIMAOCEANO PACÍFICO
The Roaming Purser
3/10/202522 min read


Hiroshima: A emoção de chegar pelo mar
Poucos destinos me mobilizaram tanto quanto o Japão. Não era apenas o nome no mapa. Era a sensação de estar entrando em um país onde tudo — absolutamente tudo — parecia seguir um código invisível de respeito, silêncio e significado. E Hiroshima? Hiroshima era outra camada disso tudo. Um capítulo à parte. Quando via esse nome na escala, eu sabia: precisava de tempo.
Trabalhei dobrado, troquei horários, fiz acordos com colegas, tudo para garantir algumas horas preciosas em terra. Não bastava apenas pisar em Hiroshima — era preciso absorver.
A aproximação do navio já dizia muito. O mar que banha Hiroshima é calmo, espelhado, quase cerimonial. Ao navegar pela Baía de Hiroshima, o navio se desloca lentamente, como quem sabe que está se aproximando de um lugar que não se atravessa correndo. As pequenas ilhas da costa pontuam o caminho com um charme discreto e sereno, e a silhueta da cidade começa a surgir, moderna e discreta, envolta por verde, montanhas e céu.
Do deck, hóspedes e tripulantes se calavam. Era instintivo. Uma mistura de reverência e expectativa. Para quem conhece a história, Hiroshima é muito mais do que uma cidade japonesa — é um símbolo. E não importa quantas vezes você a estude, leia sobre ela ou veja documentários: nada se compara à presença física, ao momento de avistar o lugar que resistiu ao impensável e escolheu florescer.


Elisa Magalhães


Hiroshima: a cidade que escolheu renascer
Memória, cicatriz e reconstrução
Hiroshima não é um destino qualquer — é um lembrete. E também uma resposta.
No dia 6 de agosto de 1945, às 8h15 da manhã, a cidade foi atingida pela primeira bomba atômica usada em um conflito. O que se seguiu foi devastador: dezenas de milhares de pessoas morreram instantaneamente; outras tantas, nos dias, semanas e anos seguintes, vítimas das consequências da radiação. Poucos lugares no mundo carregam uma cicatriz tão profunda — e poucos conseguiram, como Hiroshima, transformá-la em símbolo.
Mas se Hiroshima foi marcada pela destruição, também foi marcada pela reconstrução. E é isso que mais me impressiona. A cidade não se escondeu atrás do horror — ela o acolheu, deu nome, transformou em museu, parque, conversa. Caminhar por Hiroshima hoje é perceber que ali se vive a paz como escolha diária. Nada é esquecido. Mas tudo foi ressignificado.
Logo ao desembarcar, essa força silenciosa já se impõe. Há um ar de sobriedade que paira no ar — mas também uma leveza inesperada. Hiroshima não te puxa para baixo. Ela te mostra que é possível subir, mesmo quando tudo desmoronou.
É um lugar que provoca silêncio interior, sem forçar nada. Um silêncio que não vem do peso, mas do respeito.
Explorar Hiroshima é, de certa forma, tocar uma história universal com os próprios passos — e sair dali diferente.


O desembarque em Hiroshima
Porto, estrutura e os primeiros passos em solo japonês
O navio atracou no Hiroshima Ujina Port, o terminal de passageiros da cidade. A estrutura é discreta, moderna e funcional — sem ostentação, mas com tudo no lugar. Como quase tudo no Japão, ali reina a ordem silenciosa: tudo limpo, organizado, intuitivo. Nada de correria, filas desnecessárias ou vozes altas. É como se cada movimento já estivesse ensaiado, e o fluxo de passageiros acontecesse numa espécie de coreografia coletiva, natural, tranquila.
Logo ao desembarcar, é impossível não notar a gentileza dos funcionários portuários e a presença de voluntários, que se oferecem para ajudar com mapas e informações — com um sorriso que parece vir do coração. Dependendo da escala e do navio, pode haver ainda mais movimento e atenção: no nosso caso, a recepção foi digna de nota, com equipes de televisão, rádio, agências de turismo e um clima de festa. O navio virou atração tanto quanto a cidade — e ser acolhida com tanto carinho foi, para mim, uma das maiores surpresas da viagem.
Arredores do terminal
Embora a maioria dos passageiros siga diretamente em tours rumo ao Parque Memorial da Paz ou à Cúpula da Bomba Atômica, ou Miyajima, os arredores do Hiroshima Ujina Port também guardam uma beleza discreta. O terminal fica a cerca de 8 km do centro, o que equivale a aproximadamente 20–25 minutos de carro ou 30 minutos de bonde. Para quem tem tempo e curiosidade, dá para sentir um pouco do cotidiano local antes mesmo de sair da área portuária.
A zona ao redor do porto é tranquila, residencial em partes, e sem grandes atrações turísticas. Mas aí está justamente seu charme. As águas da baía são calmas, há pequenos calçadões à beira-mar e alguns cafés simples e lojinhas locais, onde o Japão se apresenta sem maquiagem. Nada de vitrines reluzentes ou grandes fachadas — o que se vê é o país do cotidiano: o senhor varrendo a calçada com calma, o bonde que se aproxima ao longe com seu sino ritmado, a estudante de uniforme atravessando a rua com a bicicleta ao lado.
É o Japão fora do postal. E por isso mesmo, memorável.


Explorando o centro de Hiroshima
Para quem decide viver a cidade por conta própria
Nem todo mundo desembarca com um tour organizado. E, sinceramente, Hiroshima é uma daquelas cidades onde caminhar sem roteiro pode ser a melhor escolha. O centro é acessível, seguro, acolhedor — e, acima de tudo, profundo.
A partir do porto, bastam 25 a 30 minutos no bonde elétrico (Hiroden) para chegar à alma da cidade: o centro de Hiroshima. A linha verde (#1) é a mais direta e já se torna, por si só, uma experiência local. O bonde desliza lentamente pelas ruas da cidade, revelando prédios baixos, lojas antigas, cruzamentos perfeitamente ordenados e uma atmosfera que mistura o Japão moderno com um certo ar nostálgico.
Parque Memorial da Paz
É inevitável começar por ali. O Peace Memorial Park não é apenas um ponto turístico — é um espaço de silêncio, reflexão e humanidade. Caminhar por seus jardins bem cuidados, entre esculturas, sinos, placas e memoriais, é um convite a parar. O Cenotáfio das Vítimas, a Chama da Paz e, claro, a Cúpula da Bomba Atômica (Genbaku Dome) são os pontos mais impactantes.
Mesmo sem guia, tudo é bem sinalizado. Dá para caminhar com calma, fazer pausas, ler as placas, respirar fundo. Quem preferir pode alugar um áudio-guia ou simplesmente deixar a cidade falar.
Rua Hondori: lojas, cafés e cotidiano japonês
Depois de visitar o parque, uma caminhada de poucos minutos leva até a Hondori Shopping Street, uma rua coberta, vibrante e cheia de opções para comer, comprar e observar o ritmo da cidade.
Ali, Hiroshima mostra seu lado leve. Jovens com uniformes escolares, trabalhadores em horário de almoço, aromas que vêm de restaurantes de okonomiyaki — a panqueca japonesa típica da região — misturam-se com vitrines de lojas de papelaria, cosméticos e souvenirs.
É uma rua onde é possível se perder sem culpa. Entrar numa livraria, pedir um café mesmo sem falar japonês, experimentar doces que você não consegue nomear. Hiroshima, nesse ponto, deixa de ser símbolo e vira cidade. Uma cidade viva.


Para quem caminha por conta
O que mais ver em Hiroshima sem pressa
Nem sempre é possível ver tudo em uma escala, mas se você tem algumas horas disponíveis e prefere caminhar por conta própria, Hiroshima oferece alternativas próximas, acessíveis e interessantes. Aqui vão três sugestões que equilibram história, arte e contemplação:
Castelo de Hiroshima (Hiroshima Castle / Rijō)
A cerca de 1 km do Parque Memorial da Paz, o Castelo de Hiroshima é uma bela reconstrução da fortaleza original destruída pela bomba atômica. A caminhada até lá leva 10 a 15 minutos, atravessando ruas tranquilas e arborizadas.
O castelo é rodeado por um fosso com pontes de madeira, pequenas torres e um parque agradável. No interior, há um museu compacto que explica a história da cidade antes da guerra e a importância estratégica da fortaleza. Subir até o último andar rende uma vista panorâmica que revela a harmonia entre a tradição e a modernidade que Hiroshima cultivou após a destruição.
Ingresso: 370 ienes (cerca de 2,30 euros)
Tempo ideal de visita: 1h a 1h30
Dica: o parque ao redor é gratuito e vale uma caminhada mesmo sem entrar na torre
Museu de Arte Contemporânea de Hiroshima (Hiroshima MOCA)
Se você já visitou o memorial e quer mudar de atmosfera, o Museu de Arte Contemporânea é uma pausa instigante. Ele fica a cerca de 3,5 km do centro, numa colina verde chamada Hijiyama Park, acessível por bonde e uma curta caminhada ou de táxi (10 a 15 minutos).
A arquitetura do museu já vale a visita: moderna, discreta e integrada ao entorno. O acervo mistura nomes japoneses e internacionais, com foco em obras pós-guerra e temas que dialogam com identidade, memória e transformação — tudo que Hiroshima viveu na pele.
Ingresso
Entrada gratuita para a área externa e exposições permanentes
Mostras temporárias: entre 300 e 1.000 ienes, dependendo da exposição
Tempo ideal de visita: 1h a 2h
Dica: o parque ao redor tem vistas lindas e esculturas ao ar livre
Passeio de barco pelo rio Motoyasu
Quer descansar as pernas e ver Hiroshima de outro ângulo? O passeio de barco pelo rio Motoyasu é uma experiência curta, mas simbólica. As saídas acontecem bem próximas à Cúpula da Bomba Atômica, com barcos abertos que deslizam pelo rio lentamente.
Durante o trajeto, é possível observar as margens do Parque da Paz, prédios modernos e pequenas pontes que cruzam a cidade. É silencioso, tranquilo, e dá uma sensação de reconciliação — entre a cidade, seu passado e o presente.
Ingresso: em torno de 1.000 ienes (cerca de 6 a 7 euros), pago no local
Duração: cerca de 30 a 40 minutos
Dica: os horários podem variar conforme a temporada; se for alta estação, vale checar disponibilidade logo ao desembarcar


Um tour guiado até Miyajima
Quando o coração acelera antes mesmo de chegar
A escala em Hiroshima já era carregada de expectativa, mas o passeio guiado até a ilha de Miyajima eleva tudo a outro nível. Ainda no navio, bastava ver o nome desse tour impresso no plano do dia para sentir um burburinho diferente entre os passageiros. E com razão.
O trajeto de ônibus entre o porto de Hiroshima e o terminal de balsas em Miyajimaguchi leva cerca de 45 minutos, dependendo do trânsito. No caminho, a cidade vai se diluindo em áreas residenciais tranquilas, pequenos campos, ruas estreitas e cenas do cotidiano japonês que passam silenciosamente pela janela.
Logo depois de cruzar a ponte que liga a ilha principal a essa região costeira, uma surpresa discreta e belíssima aparece no horizonte: o contorno da montanha Misen, que forma a imagem impressionante de um Buda deitado. A guia nos alertou para observar, e era como se a natureza tivesse esculpido a paisagem para nos preparar espiritualmente para o que estava por vir.
No terminal, o embarque na balsa é organizado com a eficiência típica do Japão. A travessia leva cerca de 10 minutos, e mesmo sendo breve, é um dos pontos altos do passeio.
É nessa curta travessia que o coração bate mais forte: avistar o grande torii vermelho de Itsukushima, ali, erguido no mar como se flutuasse. A estrutura se revela aos poucos, e cada metro de aproximação traz um impacto maior. É o tipo de visão que cala um grupo inteiro — ninguém fala, ninguém pisca. É só contemplação.
Mesmo antes de pisar na ilha, já é possível sentir que Miyajima não é um destino qualquer. É quase como se a travessia fosse um ritual de passagem, um preparo silencioso para algo sagrado que está prestes a acontecer.


Chegada a Miyajima
Onde o tempo desacelera e os sentidos despertam
Ao descer da balsa, o grupo foi convidado a fazer uma pequena pausa — tempo suficiente para nos orientarmos, respirar o ar salgado misturado com brisa de floresta e simplesmente absorver a atmosfera de Miyajima. O guia, sempre gentil, nos deixou livres por alguns minutos para explorar os primeiros metros da ilha. E foi ali que muitos se encantaram de imediato.
Um dos primeiros encontros é com os cervos sika, que circulam livremente pelas ruas, praças e caminhos costeiros. Eles são considerados mensageiros dos deuses na tradição xintoísta e, por isso, recebem respeito e carinho dos visitantes — embora, vale lembrar, eles estão sempre em busca de comida. É comum vê-los se aproximando com naturalidade, cutucando mochilas ou tentando roubar um mapa de papel.
Logo à frente, começa a se revelar o verdadeiro ícone da ilha: o Itsukushima Shrine, ou Santuário de Itsukushima, um dos templos xintoístas mais importantes e reverenciados do Japão. Todo construído sobre palafitas, ele se projeta sobre as águas calmas do mar interior de Seto, criando a ilusão de flutuar — principalmente na maré cheia, quando o efeito é ainda mais impressionante.
Na maré baixa, é possível caminhar até o pé do torii, tocá-lo, sentir a madeira tingida de vermelho sob as mãos e olhar a ilha a partir daquele ângulo sagrado. No momento da nossa visita, a maré ainda cobria a base do portal, e isso só tornava a cena mais mágica.
Entrada no santuário: 300 ienes (aproximadamente 2 euros)
Tempo ideal de visita: 40 a 60 minutos, incluindo a área interna e as passarelas externas sobre o mar
A arquitetura do santuário é refinada, mas sem ostentação. Tudo parece em equilíbrio: o som da madeira sob os pés, o reflexo da estrutura na água, o cheiro da maresia misturado com incenso. É o tipo de lugar que convida ao silêncio, mesmo em grupo.


O caminho até o torii
Antes de chegar ao santuário principal e ao famoso torii flutuante, há um trecho que marca a transição entre o cotidiano e o sagrado. O grupo foi conduzido por uma entrada mais discreta, quase como uma antessala espiritual, marcada por um torii de pedra e uma sequência de lanternas esculpidas ao longo da trilha.
É ali que começam os primeiros suspiros. O caminho é ladeado por komainu, os tradicionais leões guardiões, sempre posicionados em pares, um com a boca aberta, outro com a boca fechada — representando o começo e o fim, a proteção e o equilíbrio. Eles não se intimidam. Ao contrário: parecem observar em silêncio, como sentinelas da ilha, mantendo afastadas as energias impuras.
À medida que nos aproximamos do litoral, as lanternas de pedra se alinham como guias de um antigo ritual. Estavam ali muito antes de nós, e seguir por entre elas é quase como aceitar um convite ancestral para entrar num lugar que não pertence inteiramente ao mundo moderno.
E então ele aparece — o grande torii vermelho de Itsukushima, erguido no mar, flutuando com uma leveza quase impossível.
Nesse dia, a maré estava alta, e o efeito visual era ainda mais poderoso. A base do torii estava encoberta, dando a impressão de que ele levitava sobre as águas calmas da baía. É difícil explicar o impacto dessa imagem. Mesmo quem já viu fotos centenas de vezes se surpreende ao encará-lo ao vivo. Há um silêncio coletivo que toma conta do grupo, como se todos, instintivamente, entendessem que aquilo não é só um ponto turístico. É um lugar de alma.


Itsukushima Shrine
O Torii que se eleva sobre o mar
O cartão-postal mais icônico de Miyajima é o torii vermelho que parece flutuar sobre o mar. A visão dele, em contraste com a água e as montanhas ao fundo, é uma das imagens mais poéticas que já vivi em uma viagem. Quando a maré está alta, o portal se transforma em algo quase místico — um símbolo do sagrado que se sustenta entre o céu e o mar.
Ao nos aproximarmos, caminhando pela passarela que leva à entrada do santuário, a sensação era de antecipação silenciosa. Todos no grupo queriam aquele primeiro olhar direto, aquele ângulo perfeito, aquela foto... Mas mesmo com o entusiasmo do momento, havia algo no ambiente que nos acalmava. O som da água, a leve brisa e a grandiosidade serena do torii nos convidavam à contemplação.
Esse portal é mais do que um marco visual — é uma porta simbólica entre o mundo comum e o sagrado. Estar ali, mesmo por alguns minutos, é sentir essa transição.


Itsukushima Shinto Shrine
Onde o templo respira com o mar
Depois do torii, o caminho nos leva ao templo principal — Itsukushima Shinto Shrine. A estrutura de madeira se estende sobre pilares cravados no mar, como se flutuasse com as marés. Caminhar por ali é um mergulho profundo em uma paz indescritível. A arquitetura vermelha viva contrasta com o verde das montanhas e o azul da água, compondo uma harmonia visual e espiritual difícil de descrever.
Mesmo com o grupo de turistas seguindo em fila, a estrutura permite que cada um tenha o seu momento de apreciação — sem pressa, sem pressões. O som do mar batendo suavemente nas estacas e o cheiro da madeira antiga criam uma atmosfera única, que nos convida a simplesmente sentir o lugar.
Foi ali que vivi um dos momentos mais marcantes do dia: vi kannushi (sacerdotes xintoístas) preparando seu momento de meditação. Em silêncio, com uma delicadeza quase solene, eles organizavam o espaço para suas preces. Ver esses sacerdotes em seus trajes tradicionais, em perfeita sintonia com o ambiente ao redor, foi um privilégio. Tudo parecia estar em equilíbrio — os visitantes, a natureza, o templo e o tempo.
A cada curva do caminho, um detalhe novo se revelava — uma coluna ornada com lanternas de pedra, um reflexo sereno no mar. E mesmo entre tantas pessoas, a paz do lugar se impunha. Eu me peguei em silêncio por vários momentos, absorvendo não só o cenário, mas a espiritualidade do local. Parece que o templo respira com quem caminha por ele.


Livre para explorar
O que mais a ilha oferece
Após a visita guiada ao Itsukushima Shinto Shrine, o grupo foi liberado para explorar o restante da ilha por conta própria. E esse momento de liberdade foi essencial para realmente absorver tudo o que Miyajima tinha a oferecer. Para quem ainda tinha fôlego e curiosidade, os caminhos ao redor do templo eram como convites para seguir explorando.
Uma das áreas mais fascinantes fica em torno do Daishō-in, um templo budista situado mais acima na ilha, com uma visão panorâmica de tirar o fôlego. O caminho até lá é tranquilo e cheio de detalhes: pequenas estatuetas, lanternas de pedra, e uma atmosfera de introspecção que se encaixa perfeitamente com o restante da experiência.
Além disso, a vista que se tem de muitos pontos mais altos da ilha oferece uma perspectiva única de Hiroshima Bay e das montanhas ao redor. A paisagem se estende até onde o olhar alcança — uma vista majestosa e serena que recompensa cada passo dado. Para quem gosta de caminhar e tirar fotos, esse é o momento perfeito para capturar a ilha de um ângulo mais amplo, com o mar refletindo a luz do sol e os picos das montanhas ao fundo.
Outro destaque foi o pagode de cinco andares, que fica ao lado do Daishō-in. Esse pagode é uma das estruturas mais emblemáticas da ilha e oferece mais uma camada de conexão entre história, cultura e natureza. Cada um dos andares do pagode representa um elemento da natureza, o que faz dele uma verdadeira obra de arte que se integra ao cenário natural da ilha.
Com mais tempo livre, muitos preferem caminhar sem pressa, explorando os arredores do templo, passando por trilhas tranquilas e pequenas ruas de lojas tradicionais, onde se pode encontrar desde doces locais até souvenirs religiosos.
O que mais me marcou foi a sensação de estar em sintonia com a ilha. Ao caminhar pelas trilhas e ver os visitantes e os locais se movendo com calma, percebi como a ilha parece convidar a todos a desacelerar e refletir. Cada canto de Miyajima tem algo único, e o simples fato de caminhar sem pressa é uma forma de imersão nesse ambiente encantador.


As pagodas de Miyajima
Cores, alturas e um respiro no alto
Pouco mais adiante, já subindo por caminhos levemente inclinados, surge uma das imagens mais memoráveis da ilha: a pagoda de cinco andares, com sua estrutura vermelha imponente recortando o céu entre as árvores. Ela fica próxima ao Toyokuni Shrine (também conhecido como Senjokaku), e o conjunto cria uma cena tão harmônica que parece saída de uma pintura japonesa.
A distância desde o torii até a base da pagoda principal é de cerca de 500 metros — uma caminhada de 10 a 15 minutos, dependendo do ritmo e das paradas para fotos, que são inevitáveis. O acesso é livre e o entorno é bem cuidado, com pequenos mirantes que permitem observar a baía de Hiroshima de ângulos distintos.
Se tiver tempo, recomendo parar ali sem pressa. Cada andar da pagoda representa um dos elementos da natureza: terra, água, fogo, vento e céu. A estrutura em si é imponente, mas é a sensação de tranquilidade ao redor que mais fica na memória. Dali, já mais no alto da ilha, o visual se abre e convida a contemplar — ou simplesmente respirar fundo antes de continuar a jornada.


A última pausa
Lojinhas, lembranças e o tempo que desacelera
No caminho de volta, antes de seguirmos rumo ao pier para pegar a balsa, o grupo fez uma pausa estratégica — e deliciosa — pelas ruazinhas comerciais de Miyajima. É aquele tipo de trecho que parece ter saído de uma pintura japonesa antiga, mas que pulsa com vida moderna: lojinhas de madeira, letreiros tradicionais e vitrines cheias de charme.
Ali você encontra de tudo: lembranças artesanais, amuletos budistas, doces típicos, leques pintados à mão, miniaturas do torii flutuante e até sachês de incenso. Tudo cuidadosamente disposto, como só os japoneses sabem fazer.
Não há pressa ali. Dá para entrar, olhar com calma, conversar (se der sorte com a língua), escolher algo que de fato tenha significado. Levei um tempo folheando postais e segurando pequenas peças de madeira esculpida antes de escolher o que levar.


Sabores da ilha
Ostras frescas e café surpreendente
Se tem algo que define a gastronomia local de Miyajima, são as ostras. Elas estão por todos os lados: grelhadas na brasa, empanadas, no espeto, no arroz, em sopas. E são realmente frescas — cultivadas nas águas ali ao redor da ilha, um orgulho regional.
Mesmo para quem não é fã de frutos do mar, o cheiro vindo das barracas é tentador. O aroma da brasa misturado ao sal do mar é quase irresistível. A maioria dos lugares oferece ostras grelhadas na hora, e dá para pedir apenas uma unidade para experimentar sem pressa.
E aí vem a surpresa: em meio às lojinhas tradicionais, encontrei uma cafeteria pequena e moderna que servia um café com grãos vindos da Guatemala. Sim, Guatemala. A barista explicava com orgulho a origem dos grãos e o método de extração — um contraste total com o cenário tradicional da ilha, mas que, de algum modo, fazia sentido ali. Um lugar de cruzamentos culturais e surpresas boas.
Tomar um café quente com vista para o torii, depois de tudo o que havíamos visto, foi como assinar um cartão-postal para mim mesma. Um encerramento tranquilo, saboroso e cheio de memória.


Onde a ilha respira
A vida cotidiana em Miyajima
Enquanto caminhávamos pelos arredores do templo e das pagodas, me chamou a atenção algo que nem todo mundo repara: há casas na ilha. Residências simples, silenciosas, com entradas discretas e aquele ar de vila pequena onde todo mundo se conhece.
Não era um cenário montado para turista. Era vida real. Gente que vive ali todos os dias — com o torii e o santuário como pano de fundo.
Também me surpreendi ao ver jovens japoneses de uniforme escolar, provavelmente em excursão, explorando a ilha com o mesmo encantamento que os visitantes estrangeiros. Estavam animados, tirando fotos, rindo entre eles. Aquele tipo de imagem que faz a gente lembrar que lugares assim, por mais sagrados ou famosos que sejam, também fazem parte do cotidiano de alguém.
Foi só um instante, mas ficou comigo: Miyajima não é só um destino — é um canto habitado de Hiroshima, com sua própria rotina, por mais discreta que seja.


De volta ao porto
Últimos olhares antes da despedida
Depois do tempo livre entre lojinhas, cafés e paisagens de tirar o fôlego, o grupo foi se reunindo aos poucos no ponto combinado para a volta. O sol já começava a se inclinar, banhando o torii com uma luz dourada que fazia tudo parecer ainda mais sagrado.
A travessia de balsa de volta ao continente foi tranquila, quase silenciosa — como se todos ainda estivessem absorvendo o que tinham vivido. E ali, da embarcação, ver o santuário se distanciar lentamente foi como virar a última página de um livro que você gostaria de ler.
Já de volta ao ônibus, seguimos pela mesma estrada costeira que havíamos percorrido pela manhã, mas com outro olhar. O caminho passa por bairros residenciais, pequenas estações de trem e cenários do cotidiano japonês que encantam pela simplicidade e ordem. Casas modestas cercadas por jardins milimetricamente podados, bicicletas estacionadas em linha, e aqui e ali estudantes japoneses de uniforme, também explorando a ilha — uma cena que me chamou a atenção e que, de alguma forma, completava a experiência.
No fim do trajeto, o navio surgiu à frente como uma silhueta familiar, esperando silencioso no porto. Respirei fundo. Já era hora de embarcar novamente — mas agora com a alma mais leve e a memória transbordando.
Miyajima não é só uma ilha. É memória viva, que embarca com a gente.


Quando visitar o Japão de navio
A beleza está no ar
Cheguei a Hiroshima em meados de março. Ainda era preciso um casaco, sim — aquele frio que não corta, mas que ainda se impõe —, e o ar tinha um frescor limpo, quase cerimonial. Não fazia calor, mas também não era desconfortável. A palavra certa talvez seja equilíbrio. Era como se a ilha soubesse que a primavera estava por vir, mas ainda guardasse, em silêncio, os últimos gestos do inverno.
Para mim, esse comecinho da primavera é o momento mais especial para navegar pelo Japão. A luz é mais suave, as multidões ainda não chegaram em massa, e há uma certa tranquilidade nas cidades — como se tudo estivesse se preparando para florescer. Ainda não havia cerejeiras em flor, mas dava pra sentir que elas estavam a caminho. E isso já bastava para que tudo ganhasse outra cor.
De navio, o Japão revela uma face única. O mar parece calmo demais para tanta história guardada na costa. Os portos são organizados, funcionam com uma eficiência impressionante, e mesmo assim não perdem a delicadeza. Dá pra ver que cada chegada é recebida com respeito.
Com o passar dos anos, mais e mais roteiros de cruzeiros têm incluído o Japão — e não é por acaso. Poucos lugares no mundo combinam tão bem a precisão de um desembarque com a poesia de uma visita. E quando você caminha por lugares como Hiroshima, sabendo o que ali aconteceu e o que ali floresceu, entende: algumas escalas não são só paradas. São encontros.
Custos, câmbio e planejamento para explorar Hiroshima
Quanto custa um tour em Hiroshima
Se você pensa em fazer um tour como o que fiz até a ilha de Miyajima, com duração de aproximadamente 6 horas, espere gastar cerca de US$ 100 por pessoa. É um valor padrão para esse tipo de passeio em cruzeiros, e inclui os ingressos para o santuário flutuante de Itsukushima, museus e a balsa de travessia.
É um investimento que vale a pena, especialmente quando você quer aproveitar ao máximo o destino sem se preocupar com idioma, transporte e logística. A presença de um guia local faz toda a diferença — além das informações históricas, ele garante que o grupo explore os pontos certos com eficiência.
Vale mais a pena tour ou explorar por conta?
Se você quer independência, Hiroshima oferece uma boa estrutura para explorar por conta própria, mas com algumas ressalvas. A língua é uma barreira real: muitas placas estão apenas em japonês e nem todo comerciante fala inglês, especialmente os mais velhos. Para quem não tem experiência viajando de forma independente pelo Japão, o tour pode ser a opção mais segura e prática — ainda mais com o tempo contado de uma escala de cruzeiro.
Câmbio: onde e como trocar seu dinheiro
No meu navio, havia serviço de câmbio a bordo — uma facilidade enorme para quem quer desembarcar já com os ienes em mãos. Mas isso depende da companhia, então vale verificar com antecedência.
No porto de Hiroshima, não cheguei a ver máquinas de câmbio automático no terminal, mas há lojas de conveniência como 7-Eleven, Lawson e FamilyMart a menos de 10 minutos de caminhada. Essas lojas contam com ATMs que aceitam cartões internacionais, uma alternativa prática para sacar ienes.
Dica prática: Mesmo que os cartões de crédito sejam amplamente aceitos em Hiroshima — em atrações, lojas e restaurantes —, ter um pouco de dinheiro em espécie é essencial, principalmente para compras menores ou locais mais tradicionais.
Alimentação: preços acessíveis e comida autêntica
Hiroshima me surpreendeu. Comer bem por aqui não exige gastar muito. Há barraquinhas de rua, pequenos restaurantes, cafés charmosos e casas especializadas em pratos locais, como:
Okonomiyaki ao estilo de Hiroshima (uma delícia imperdível)
Ostras frescas, que são uma iguaria regional
Cafés que utilizam grãos da Guatemala, algo que não esperava encontrar por ali
De forma geral, achei a alimentação mais acessível do que em muitos portos da Ásia ou Oceania. É possível fazer uma boa refeição com cerca de ¥1000 a ¥1500 (algo entre 7 e 12 dólares, dependendo da cotação).
Souvenirs e compras
Quanto aos souvenirs, Hiroshima tem preços justos, semelhantes aos de outras cidades turísticas bem organizadas. Você encontra desde lembranças simples a peças artesanais mais sofisticadas — e nada que pareça superfaturado como em certos destinos da Europa.
Segurança e estrutura
Hiroshima, como outras cidades japonesas, é extremamente segura. Você pode usar seu celular ou câmera com tranquilidade, caminhar sozinho sem medo e não encontrará pedintes ou vendedores insistentes nas ruas. A cidade é limpa, silenciosa e muito respeitosa com os visitantes.
Para quem pretende explorar por conta, o único ponto de atenção são os sinais apenas em japonês e a barreira linguística em locais menos turísticos. Por isso, reforço: ter um guia pode transformar sua experiência.


Minhas Impressões Pessoais sobre Hiroshima
Explorar Hiroshima não é só sobre os pontos turísticos. A cidade, com toda a sua história e significado, transmite algo que toca profundamente. O Japão, de maneira geral, é um dos países mais seguros que já visitei — e Hiroshima, em particular, é um exemplo disso. Andar pelas ruas, usar meu equipamento fotográfico, e interagir com as pessoas sem medo de roubos ou qualquer tipo de incômodo foi, para mim, algo que se tornou rotina, e é reconfortante saber que, em um lugar assim, a confiança é quase uma garantia.
Outro detalhe que achei interessante é que, ao contrário de outros destinos, você não vai se deparar com pedintes, mercados informais ou barracas improvisadas pelas ruas. A cidade é limpa, organizada, com uma tranquilidade que permite uma exploração sem o caos do dia a dia de cidades grandes.
Porém, como mencionei, explorar Hiroshima por conta própria pode ser um pouco desafiador se você não tiver um bom domínio do idioma. A sinalização, principalmente fora dos pontos turísticos principais, está em japonês, e o inglês não é falado por todos — especialmente entre a população mais idosa. Por isso, se você não se sente confortável com isso, um guia é essencial para aproveitar ao máximo a experiência, garantindo que sua jornada seja tranquila, sem dificuldades com a língua ou a localização.
E o mais fascinante de tudo: quando você chega no Japão, é como se a cidade inteira se preparasse para receber os navios. A cidade recebe cada passageiro com uma cerimônia silenciosa de boas-vindas, sempre organizada, sempre respeitosa. Foi algo que me tocou profundamente e que certamente vou levar para sempre.
Em Hiroshima, o respeito pela história e pela natureza é palpável, e, mesmo sem palavras, você sente o carinho de um povo que recebe quem vem de longe com um sorriso. Para mim, isso fez toda a diferença.
Muito obrigada por me acompanhar nessa passagem por Hiroshima — um lugar que permanece em mim. Quer viajar mais? Siga comigo pelos próximos destinos, sempre com o coração aberto e os sentidos atentos.

© 2025 The Roaming Purser. Todos os direitos reservados.
SIGA


NAVEGAÇÃO
DOCUMENTOS
Navegar é viver — e viver pra viajar é a melhor forma de viver!
Este é o diário de uma ex-purser que ainda escreve como se estivesse no mar.
Compartilho experiências, não verdades absolutas — cada porto é único pra cada viajante!
Receba as últimas atualizações, dicas de destinos e histórias exclusivas diretamente no seu e-mail.