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Monemvasia no Cruzeiro: Um Tesouro Escondido na Costa da Grécia
Se você ainda não conhece Monemvasia, prepare-se para se surpreender. Chegar de navio nesse destino é uma experiência que vai te transportar para um pedacinho da Grécia mais verdadeira, longe dos pontos turísticos mais badalados. Ao atracar no pequeno porto, você se depara com uma cidade que mistura história, charme e tranquilidade. Neste artigo, compartilho como aproveitar ao máximo esse destino que se tornou um dos mais marcantes para mim na Grécia — da caminhada pelas ruelas da cidade baixa à subida até as ruínas do castelo, passando pelos detalhes que fazem de Monemvasia um tesouro ainda pouco conhecido, mas impossível de esquecer.
EUROPAGRÉCIAMONEMVASIAMAR EGEU
The Roaming Purser
3/12/202511 min read


Entre Muralhas e Marés: Uma Viagem no Tempo
Monemvasia, conhecida como "a Gibraltar da Grécia", é uma cidade medieval de tirar o fôlego, localizada no sudeste do Peloponeso, que parece ter saído de um conto histórico. Sua posição estratégica, em uma ilha ligada ao continente apenas por uma estreita ponte de pedra, tornou-a um ponto de grande importância nos tempos bizantinos e medieval.
Durante séculos, a cidade prosperou como um centro comercial e militar, sendo um refúgio seguro de invasões devido à sua localização inacessível por terra.
Sua história remonta ao século VI, quando o imperador bizantino Justiniano construiu uma fortaleza na rocha imponente que sustenta a cidade.
Ao longo dos anos, Monemvasia passou por várias mãos: bizantinos, venezianos e otomanos, cada um deixando sua marca na arquitetura e na cultura do lugar. Esse passado tumultuado conferiu à cidade um caráter único, repleto de vestígios de antigas fortificações, igrejas e ruas de pedra que ainda preservam o charme medieval.
Hoje, Monemvasia continua a ser um refúgio isolado, mas com um apelo irresistível para os viajantes. Ao visitar o local, é impossível não se encantar pela sua atmosfera tranquila, onde o tempo parece parar e a história se entrelaça com a beleza natural ao redor.


Elisa Magalhães


Monemvasia – Um Nome Desconhecido, Um Lugar Inesquecível
Navegar pelo mar Egeu já carrega em si uma expectativa ancestral. Aquele azul profundo que parece contar séculos de história, o sopro do vento seco, e o horizonte que se abre para destinos que, muitas vezes, a gente só conhece nos livros ou nos contratos de bordo. Foi em uma dessas rotas — entre ilhas mais famosas e escalas previsíveis — que Monemvasia apareceu. Um nome que, até então, não significava nada para mim.
Mas o mar guarda surpresas, e Monemvasia foi uma delas.
A Chegada: Uma Pedra Solitária No Mar
Desde o início da manhã, a ponte de comando já comentava sobre os ventos, a profundidade e o ancoradouro. Monemvasia não possui um porto comercial capaz de receber navios de cruzeiro de grande porte. O navio fica fundeado ao largo — ancorado no mar, em posição fixa — e os passageiros são levados até terra firme por tender boats.
Quando a rocha começou a surgir no horizonte, ela parecia apenas isso: uma formação rochosa grande e sem expressão. Não se via cidade, não se via nada. Apenas uma muralha que contornava a base da pedra. Sem guindastes, sem terminal, sem agitação portuária. À primeira vista, uma escala que mal chamava atenção.
Mas a aproximação revelou outra coisa.
A luz da manhã destaca os tons terrosos da muralha que circunda a antiga cidade. Com o mar calmo, a operação de desembarque ocorreu com eficiência. Os tenders fazem o percurso até um pequeno cais no vilarejo de Gefyra, do lado continental. Dali, vê-se a ponte que conecta o continente à rocha de Monemvasia — um istmo estreito e moderno, que quebra a ilusão de isolamento total, mas não elimina o impacto do que vem a seguir.


Um Porto Que Não É Porto
O pequeno píer onde atracamos era simples, com espaço apenas para os tenders. Sem terminal turístico, sem estrutura grandiosa. Mas é exatamente isso que preserva o encanto da escala. Nada ali parece pensado para o turismo de massa — e, de fato, Monemvasia raramente está nas rotas comerciais mais populares.
A partir do cais, há duas opções: fazer o trajeto a pé até o portão da cidade murada (cerca de 1,5 km) ou pegar uma van (muitas vezes oferecida pelo próprio navio ou por operadores locais). A estrada é reta e tranquila, com o mar de um lado e o paredão de pedra crescendo à sua frente, como um guardião silencioso de outro tempo


Antes da Fortaleza: O Que Encontrar ao Descer do Tender
Ao pisar em terra firme, o visitante não é lançado diretamente na cidade medieval — e ainda bem. O pequeno vilarejo de Gefyra, onde fica o píer de desembarque, já oferece um cenário acolhedor e um primeiro contato com o cotidiano grego fora dos pontos turísticos superexpostos. Tudo é plano, acessível e logo ao lado da zona de desembarque. Em menos de 200 metros de caminhada, você já está cercada por tavernas à beira-mar, lojinhas de artesanato e o aroma irresistível da cozinha local.
Se você é do tipo que gosta de começar pela gastronomia, aqui é o momento. Algumas mesas estão dispostas literalmente de frente para o mar, onde se pode saborear uma salada grega com queijo feta fresco ou peixes grelhados do dia e, claro, um copo de ouzo ou vinho local, com o som das ondas como trilha e a muralha de fundo.
A prainha logo ali — conhecida como Praia de Gefyra — é uma faixa de areia e pedras pequenas que se estende a cerca de 350 metros do porto. Água cristalina, calma e ideal para um mergulho rápido antes de iniciar a exploração. Não há grandes estruturas de praia, o que mantém o clima tranquilo, mas o mar é convidativo e dá aquele choque térmico perfeito após o calor do tender e o sol grego na pele.
Se a ideia for comprar lembranças, há algumas lojas de produtos típicos vendendo desde sabonetes artesanais à base de azeite até vinhos, azeites e mel da região do Peloponeso. Nada é exagerado ou padronizado — e isso torna o passeio ainda mais autêntico.


A Travessia: Da Vida Costeira à Cidade Escondida
Depois de um mergulho na prainha, uma refeição leve ou uma volta pelas lojinhas, chega a hora de atravessar a ponte. E aqui começa a mudança de atmosfera. Monemvasia, a rocha imensa que até então era só um pano de fundo no horizonte, vai ganhando protagonismo a cada passo.
A ponte tem cerca de 400 metros de comprimento e pode ser percorrida tranquilamente a pé em menos de 10 minutos. O caminho é plano, ladeado pelo mar dos dois lados, e vai revelando pouco a pouco a silhueta da muralha medieval. A caminhada é quase meditativa. À medida que nos aproximamos da entrada da cidade antiga, a sensação é a de estar sendo transportada — não apenas para outro lugar, mas para outro tempo.
Ali, diante do único portão de entrada cravado na pedra, a rocha finalmente mostra sua função: proteger, esconder, guardar. Monemvasia significa exatamente isso — “única entrada”. E é só ao passar por esse túnel estreito, cavado na base da montanha, que o mundo antigo se abre.


Dentro da Cidade Murada: O Tempo em Estado de Pedra
A primeira coisa que se nota é o silêncio. Não há trânsito, não há pressa. As ruas são de pedra irregular, estreitas, labirínticas. Algumas casas ainda são habitadas, outras foram transformadas em pequenas pousadas charmosas ou ateliês discretos. Nenhum letreiro grita. Nenhuma modernidade invade a cena. Monemvasia é viva, mas sem barulho.
A praça central, com a igreja de Elkomenos Christos, é um bom ponto de referência. Dali saem as ruelas que sobem, descem, bifurcam. Algumas levam ao mar, outras aos mirantes, e há sempre uma sensação de descoberta em cada esquina.
Mas o melhor está por vir: a subida à cidade alta, onde ruínas e vistas se misturam ao vento.


A Subida à Cidade Alta: Calor, Pedra e Recompensa
Subir até a parte alta de Monemvasia é uma daquelas experiências que a gente só entende quando vive. A trilha começa discreta, atrás da praça, e logo se impõe com pedras irregulares, subida constante e um sol grego que não perdoa. Não há sombra nem estrutura. É o tipo de caminho que não foi feito para ser confortável — mas também não assusta. Com um mínimo de preparo e um bom par de tênis, qualquer um chega lá em cima.
Leve água. Parece simples, mas faz falta. Não há onde comprar nada no topo, e essa trilha exige hidratação. Também vale a pena verificar com antecedência se a igreja de Santa Sofia estará aberta — ela nem sempre está, mas mesmo fechada continua sendo um ponto central da experiência. Imponente, silenciosa, com sua cúpula contrastando com o azul do céu e do mar.
O que se encontra lá em cima não é um ponto turístico clássico. Não há cafés, lojas ou placas explicativas. A cidade alta de Monemvasia não está adaptada para receber multidões — e ainda bem. O que existe é a vista do Egeu, as ruínas que desafiaram o tempo, e um silêncio profundo que só é quebrado por um detalhe típico da Grécia: os gatos.
Eles aparecem por ali, leves, serenos, andando pelos muros ou cochilando nas pedras quentes. São os verdadeiros moradores da montanha — gatos das casas ainda habitadas na cidade baixa, que sobem, exploram e vivem ali com a mesma liberdade com que os visitantes tentam decifrar o lugar. Se alguém ali sabe o segredo de Monemvasia, provavelmente são eles.


A Volta, o Ritmo da Cidade Baixa e o Que Fazer com o Resto do Dia
Monemvasia não é um destino que vive lotado. Muito pelo contrário. Só fica mais agitado quando o seu próprio navio atraca e todo mundo resolve descer ao mesmo tempo — passageiros e tripulação. É nessas horas que o tamanho da cidade se revela: pequeno, contido, tranquilo. E isso é uma das melhores coisas por aqui.
Esse é um daqueles portos ideais para relaxar, andar sem pressa, comprar alguma lembrança ou sentar em uma taverna e comer bem, sabendo que se tem tempo. A grande atração é, sem dúvida, a montanha. E é ela que deve ser o seu primeiro destino, especialmente se você chegou cedo.
Se atracar pela manhã, vá direto para a subida. Faça isso antes do sol esquentar demais e antes de as ruas ficarem mais movimentadas. Reserve a parte da manhã para subir com calma, aproveitar a vista e descer ainda a tempo de curtir o resto do dia no ritmo da cidade baixa.
A partir do fim da manhã, o ideal é ficar por ali — entre as ruazinhas, os cafés, a pequena praia perto do porto (ótima para um mergulho rápido e fácil), ou até mesmo a Praia de Pori, mais afastada (cerca de 3,5 km), para quem tiver disposição ou transporte local. Se o plano for apenas refrescar o corpo e deixar o tempo passar, a praia urbana mesmo já resolve.


Praias em Monemvasia: Onde Mergulhar com Vista
Se ainda tiver tempo depois da subida até a cidade alta e de explorar as ruelas da cidade baixa, Monemvasia oferece boas opções para um mergulho com vista para a fortaleza — seja para se refrescar rapidamente ou para curtir um pouco mais o mar grego.
Praia do Porto (ao lado da ponte)
Fica literalmente junto à área de desembarque. Pequena, de pedras, com água cristalina e acesso imediato. Ideal para quem quer apenas se refrescar antes ou depois da caminhada.
Praia de Pori (3,5 km do porto)
A mais extensa e conhecida da região. Tem faixa de areia e mar aberto, menos protegido do vento. É possível ir a pé, mas o calor forte pode tornar a caminhada cansativa. Se optar por essa praia, vá no início da tarde, com tempo disponível e sabendo que a volta exige um pouco de planejamento.
Ampelakia Beach (2,5 km do centro)
Menos movimentada que Pori, mas agradável. Boa para quem quer sair do centrinho sem se afastar tanto. O mar costuma estar mais calmo e a água é limpa.
Xifias Beach (4,5 km ao sul de Monemvasia)
A mais isolada entre as acessíveis durante uma escala. Tem água azul-turquesa e pouco movimento. Só compensa se você tiver transporte (carro ou táxi) ou disposição para uma caminhada longa sob o sol.
A maioria das praias na região tem fundo pedregoso, por isso é comum ver os locais usando sapatilhas para entrar na água. Se você pretende passar mais tempo nadando, vale levar ou alugar um par.


Quando Visitar Monemvasia: A Melhor Época para Aproveitar Bem a Escala
Monemvasia pode ser visitada o ano inteiro, mas há momentos em que a experiência é claramente mais proveitosa — especialmente para quem chega de navio. O ideal é programar a visita entre abril e outubro, quando o clima está mais estável, com céu azul e temperaturas agradáveis para explorar o núcleo histórico e, claro, dar um mergulho.
Os meses de maio, junho e setembro são os mais equilibrados: calor sem exagero, menos vento e bem menos turistas em comparação ao auge do verão grego. Já julho e agosto são os meses mais quentes e também os mais movimentados, inclusive com mais navios no porto — o que pode afetar o ritmo tranquilo que normalmente se vive aqui.
Se estiver a bordo durante a primavera ou o começo do outono, vai encontrar Monemvasia no seu melhor: floridas nas encostas, com dias longos e um clima que convida tanto à caminhada quanto ao descanso. E mesmo no alto verão, ainda é uma escala que oferece sombra, brisa do mar e tavernas sempre prontas para receber.


Impressões Finais: Monemvasia Fica com Você
Monemvasia é uma cidade pequena, encantadora e acolhedora. Andar por suas ruas é seguro, tranquilo, sem aquela tensão que às vezes se sente em destinos maiores como Atenas. Aqui, tudo parece feito para ser vivido com calma.
Estive neste porto em setembro. Fazia calor, sim, mas era aquele calor seco e suportável — típico da Grécia — que não impede ninguém de explorar. E foi justamente esse clima que me permitiu aproveitar cada momento: caminhar, subir, descer, mergulhar e ainda parar para uma boa refeição. Comer bem e comprar lembranças aqui também pesa menos no bolso do que em outros portos mais turísticos.
Foi uma surpresa completa para mim, que nem sabia da existência de Monemvasia antes de trabalhar no navio — e hoje guardo essa escala como uma das mais especiais. Sem romantizar, posso dizer que essa cidadezinha me conquistou. Tudo o que vi e explorei por aqui está guardado com muito carinho. Monemvasia encanta por tudo o que já mencionei, mas o mais especial mesmo é o que só se encontra em lugares pequenos assim: a autenticidade de uma Grécia vivida de perto, em ritmo próprio.
Conclusão:
Monemvasia é isso: uma escala que surpreende. Não há slogans chamativos, nem filas para entrar em monumentos disputados. Há, sim, uma cidade de pedra que resiste ao tempo, um pedaço de história que não se exibiu, mas que ficou comigo de forma definitiva.
Monemvasia me ensinou que algumas escalas não precisam de um itinerário planejado, nem de pressa. Que caminhar devagar, parar numa sombra, ouvir o silêncio entre muralhas e ver o mar de cima é mais do que suficiente para tornar um porto inesquecível.
Voltar ao tender, ao fim do dia, com os pés cansados e a alma em paz, é a melhor forma de entender o valor desse lugar, mesmo sabendo que ainda há algumas horas de trabalho antes de iniciar o ciclo novamente no próximo destino. E quando o navio parte, levando a rocha de volta ao horizonte, a sensação não é de despedida, mas de privilégio. De ter estado ali.
Se você tiver a sorte de encontrar Monemvasia na sua rota, abrace a oportunidade. Porque essa fortaleza esquecida pelo turismo de massa pode ser, também para você, o lugar que entrou no mapa da sua vida sem avisar — e ficou para sempre
Muito obrigada por me acompanhar nessa viagem — e até a próxima escala. Se preferir, continue explorando outros destinos aqui no blog — tem muita Grécia (e além) te esperando.

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