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Porto de Haifa, Israel: Uma Escala de Cruzeiro Inesquecível no Mediterrâneo

Um porto que exige escolhas e entrega recompensas à altura. Haifa foi uma das escalas mais marcantes que fiz em Israel — não apenas pelas possibilidades de excursões a lugares sagrados como Jerusalém, Belém e Nazaré, mas também pelas surpresas dentro da própria cidade. Neste relato, compartilho os acertos, os arrependimentos, o que deixei para trás e por que essa escala virou referência pessoal para entender a complexidade e a beleza do país. Se você está planejando um cruzeiro pelo Mediterrâneo com paradas em Israel, vale a pena saber o que te espera aqui — e o que talvez só descubra se voltar.

ORIENTE MÉDIOISRAELHAIFAMAR MEDITERRÂNEO

The Roaming Purser

3/18/202521 min read

Navio chegando ao porto de Haifa visto do convés, com a cidade se estendendo ao pé do Monte Carmelo.
Navio chegando ao porto de Haifa visto do convés, com a cidade se estendendo ao pé do Monte Carmelo.

A Chegada em Haifa: Um Espetáculo do Convés

Poucos portos me marcaram tanto quanto Haifa. Chegar ali de navio é uma experiência que começa muito antes do desembarque. Ainda no convés, com o vento leve e o silêncio das primeiras horas da manhã, a paisagem vai se revelando devagar: o contorno do Monte Carmelo, os prédios em desnível, e no alto, quase pairando sobre a cidade, os Jardins Baha’i — tão perfeitos que parecem desenhados à mão.

A vista impressiona. Não há pressa. Quem está no navio sente que precisa observar, deixar o olhar repousar no cenário. É uma chegada que convida ao respeito, à contemplação — e à curiosidade.

Tive a sorte de ter muitas horas livres nessa escala, e usei cada uma para explorar a cidade no meu tempo, sem roteiro fixo. Haifa me recebeu com calma, contrastes e uma energia inesperadamente leve para um destino tão carregado de história.

Foto da autora do blog Haifa, Israel.
Foto da autora do blog Haifa, Israel.

Elisa Magalhães

Navio chegando ao Porto de Haifa com vista dos prédios e da cidade ao fundo.
Navio chegando ao Porto de Haifa com vista dos prédios e da cidade ao fundo.

A Chegada ao Porto: O Que Esperar

A aproximação ao porto de Haifa já entrega muito do que a cidade é: funcional, urbana, mas cercada de beleza natural. O terminal de cruzeiros fica bem integrado à zona portuária comercial, então a primeira impressão é de um porto de carga — não exatamente convidativo, mas eficiente.

A estrutura é simples, sem grandes áreas turísticas dentro do terminal, mas organizada. O desembarque costuma ser rápido, com controle de segurança reforçado, como é padrão em Israel, mas conduzido de forma direta e cordial. Há uma área coberta logo na saída do navio com pontos de informação, câmbio (com taxas que variam bastante) e acesso a táxis logo à frente.

Se for sair por conta própria, o porto oferece uma saída direta para a cidade: em poucos minutos de caminhada, chega-se à estação central de trem Haifa Merkaz HaShmona, e há também uma estação de metrô (o Carmelit, sistema funicular) nas proximidades — ideal para quem pretende subir até o topo do Monte Carmelo.

Não espere luxo, mas espere praticidade. A localização central do porto é um dos pontos altos dessa escala: Haifa começa assim que você pisa fora do terminal.

Placa do Porto de Haifa localizada no jardim da entrada do terminal.
Placa do Porto de Haifa localizada no jardim da entrada do terminal.

Como é o Desembarque: Segurança e Imigração

Em Haifa, o processo de desembarque envolve um controle rigoroso, mas bem estruturado. As autoridades israelenses costumam embarcar no navio logo após a atracação, instalando-se dentro da própria área portuária com uma mesa de imigração dedicada ao cruzeiro.

No navio em que trabalhei, o procedimento era sempre o mesmo: passaportes de passageiros e tripulantes ficavam retidos temporariamente pelas autoridades, que entregavam no lugar um landing card — um documento oficial com seus dados, foto e a autorização para circular em território israelense durante a permanência do navio no porto. Esse cartão funcionava como sua identidade provisória no país, e deveria ser mantido com você em todos os momentos em terra.

Esse mesmo sistema foi aplicado também em Aqaba, na Jordânia, embora eu não tenha comentado esse detalhe antes. Não posso afirmar que todos os cruzeiros seguem exatamente esse protocolo, mas em todas as escalas que fiz com embarcações que operam na região, a rotina foi idêntica: passaporte retido, landing card emitido e conferência individual antes da liberação.

O procedimento é sério, mas conduzido com cordialidade e eficiência. Uma vez liberado, o acesso à cidade é direto e descomplicado.

Saída do Porto de Haifa com vista para a rua, movimento de pedestres .
Saída do Porto de Haifa com vista para a rua, movimento de pedestres .

Transporte e Acessibilidade em Haifa

Opções de transporte na saída do terminal

Para quem chega de navio, a boa notícia é que o porto de Haifa tem opções práticas para seguir viagem.

Não há um sistema formal de shuttle bus gratuito ligando o terminal aos pontos turísticos da cidade, mas algumas companhias de cruzeiro oferecem transfers pagos. Para quem prefere ir por conta própria, a saída do terminal é rápida e simples.

Logo na saída do porto, há uma fila organizada de táxis oficiais, prontos para levar passageiros a diferentes pontos da cidade ou até mesmo para destinos mais distantes, como o Monte Carmelo ou Acre. Os táxis são confiáveis, mas vale negociar o valor antes de embarcar para evitar surpresas.

Ao redor do porto, a paisagem é bem urbana e funcional — prédios administrativos, armazéns e áreas portuárias comerciais dominam a vista. Não espere comércio turístico ou grandes atrações logo na saída, mas é possível caminhar alguns minutos até áreas mais centrais de Haifa, onde restaurantes, lojas e cafés começam a aparecer.

Para quem gosta de transporte público, a estação central de trem fica próxima, facilitando deslocamentos para outras partes da cidade e região. Também há acesso ao Carmelit, o funicular local, que sobe o Monte Carmelo e é uma experiência interessante para quem quer explorar Haifa de forma autêntica.

 Vista do trajeto do porto de Haifa até os Jardins Bahá’í, com ruas movimentadas.
 Vista do trajeto do porto de Haifa até os Jardins Bahá’í, com ruas movimentadas.

Explorando Haifa Por Conta Própria: O Caminho para os Jardins Baha’i


Como se locomover por Haifa por conta própria

Se você não estiver embarcado em um tour organizado pelo navio, a melhor forma de explorar Haifa com liberdade é pegar um táxi direto do porto. Foi exatamente o que fiz. Os Jardins Baha’i — que são, sem dúvida, o grande cartão-postal da cidade — ficam a cerca de 7 km do terminal, o que dá uma corrida rápida, em torno de 15 minutos, dependendo do trânsito.

Esse trajeto foi meu ponto de partida para uma caminhada tranquila e contemplativa pelos Jardins Baha’i. Como Haifa não conta com serviço de ônibus turístico hop-on hop-off, o táxi acaba sendo mesmo a melhor opção para quem quer se locomover com autonomia. O transporte público funciona bem e é eficiente, mas exige alguma habilidade de navegação para quem não está familiarizado com a cidade.

Já a parte mais antiga de Haifa — onde ficam algumas construções históricas, mercados e cafés tradicionais — está ainda mais próxima do porto: cerca de 3 km, ou seja, dá até para ir a pé se o clima estiver agradável e você estiver disposto a caminhar. Mas, como a topografia da cidade não é das mais planas, eu optei por seguir de táxi mesmo, o que garantiu mais tempo para aproveitar cada parada do meu roteiro.

Se você prefere explorar com independência e sem complicação como eu, o táxi direto é o caminho mais eficiente.

Fotos da autora nos jardins de Bahai em Haifa.
Fotos da autora nos jardins de Bahai em Haifa.

Jardins Baha’i: Um Refúgio de Beleza e Silêncio em Haifa

Uma experiência sensorial

Estava sozinha em Haifa e queria aproveitar cada instante no meu tempo, sem pressa. Decidi caminhar pelos Jardins Baha’i, um lugar que rapidamente se revelou simplesmente encantado. Impecáveis, esses jardins me receberam com mosaicos de mármore que formam uma das vistas mais lindas que já vi — uma beleza que vai muito além da simples paisagem, é uma experiência para os sentidos.

O jardim é enorme, um verdadeiro convite para caminhar. A cada degrau que eu subia, um novo ângulo da beleza se revelava, como se o lugar guardasse surpresas a cada passo. O silêncio pairava no ar, quebrado apenas pelo suave som do vento que trazia a brisa do Mar Mediterrâneo ao fundo, misturando-se com o aroma fresco e botânico das plantas ao redor.

Enquanto eu explorava, o taxista que me acompanhava sugeriu subir de carro até o outro trecho, onde se tem uma vista do alto. Aceitei, e lá de cima a sensação era indescritível — cada ângulo capturado parecia uma imagem que ficaria gravada para sempre na memória. O jardim, com sua harmonia e história, toca de um jeito que poucas paisagens conseguem.

Criado no século XX e mantido por uma equipe dedicada de jardineiros e voluntários, o local representa mais do que uma obra de arte botânica. É um símbolo de paz e união para Haifa, um ponto onde cultura, fé e natureza se encontram em silêncio e respeito.

A entrada é gratuita, mas para preservar esse espaço único, algumas regras são rigorosamente aplicadas e devem ser respeitadas: não comer, beber ou fumar dentro dos jardins; não tocar nas plantas ou flores; e evitar qualquer comportamento que possa prejudicar a integridade do local. Essas normas estão bem claras logo na entrada, e mesmo com tantos turistas, há bastante espaço para quem busca um momento de contemplação quase solitário.

Para mim, foi uma parada obrigatória — um instante de pausa que trouxe calma e encanto em meio à minha jornada pelo Mar Mediterrâneo.

Fotos da autora visitando o shrine de Bab em Haifa.
Fotos da autora visitando o shrine de Bab em Haifa.

Shrine of the Báb: O Coração Espiritual de Haifa

No centro geométrico e simbólico dos Jardins Bahá’í, repousa o Shrine of the Báb, o santuário dourado que abriga os restos mortais do Báb, figura central da fé Bahá’í. Com sua cúpula dourada reluzente, visível de praticamente todos os pontos da cidade, ele é muito mais do que um marco arquitetônico: é um local sagrado de peregrinação e reverência, cercado por um silêncio respeitoso.

A estrutura tem um equilíbrio quase hipnótico entre o clássico e o oriental, com colunas brancas, detalhes delicados e uma aura que impõe respeito mesmo a quem não conhece a religião. O santuário está localizado aproximadamente no centro vertical dos jardins, marcando o ponto de transição entre a parte superior — onde está o mirante e os terraços mais altos — e a parte inferior, mais próxima da Cidade Velha.

Visitação e Limitações

A visita ao interior do Shrine of the Báb é extremamente limitada. Na verdade, não é permitida a entrada para turistas em geral. A área interna é reservada a membros da fé Bahá’í ou a peregrinos autorizados, em momentos muito específicos. Isso pode frustrar quem espera explorar por dentro, mas faz parte do caráter sagrado do espaço. Ainda assim, o entorno é acessível — você pode se aproximar da entrada, admirar os jardins ao redor e contemplar a estrutura bem de perto, sentindo a serenidade do local.

Vale lembrar que os Jardins Bahá’í também têm regras claras de circulação. Apenas algumas partes estão sempre abertas ao público — em geral, o mirante superior e os terraços intermediários, com caminhos guiados por funcionários locais. Não é possível atravessar os jardins por completo livremente: para descer do topo até a base (ou o contrário), é necessário agendar uma visita guiada com antecedência, e os grupos são limitados.

Mesmo com essas restrições, o Shrine of the Báb é, para mim, o ponto de força espiritual e visual de Haifa. Tudo em volta parece se organizar a partir dele — as plantas, os caminhos, a cidade. Um eixo de paz que se impõe com delicadeza.

Fotos do Mosteiro em Stella Maris em Haifa.
Fotos do Mosteiro em Stella Maris em Haifa.

Stella Maris: O Mosteiro e o Encanto no Topo do Monte Carmelo

Depois de explorar os Jardins Baha’i, segui para o ponto mais alto da cidade, onde está o famoso Mosteiro Stella Maris, um marco espiritual e histórico que domina o topo do Monte Carmelo. Chegar até lá, de táxi, é por si só uma experiência — a subida pelas encostas revela vistas panorâmicas incríveis da cidade e do mar Mediterrâneo, preparando o terreno para o que vem a seguir.

O Mosteiro Stella Maris não é só um belo prédio — é um lugar carregado de significado religioso e cultural, onde a tranquilidade e a devoção se encontram com a natureza exuberante ao redor. A arquitetura do mosteiro, com suas paredes antigas e detalhes únicos, contrasta com o cenário vibrante do parque que o envolve, criando um ambiente que convida à contemplação e à pausa.

Passear por ali é como viajar no tempo e no espírito: as esculturas e elementos religiosos conversam com a paisagem verde e o azul profundo do mar, formando um quadro vivo que fica na memória. A atmosfera serena, quase mágica, fez com que aquele momento fosse uma das experiências mais marcantes da minha visita a Haifa.

Stella Maris é, sem dúvida, um daqueles lugares onde a história, a fé e a natureza se encontram para oferecer um respiro profundo e uma beleza difícil de esquecer — um ponto alto (literalmente e figurativamente) na escala por Haifa.

Fotos internas do Mosteiro sagrado em Haifa.
Fotos internas do Mosteiro sagrado em Haifa.

Uma Parada Sagrada: Pilgrimage Center dentro do Holy Place

Atmosfera de silêncio e contemplação

Ao entrar no Holy Place, senti imediatamente a atmosfera de reverência e história. A decoração interna é rica e cheia de detalhes valiosos, cada canto contando um pouco da longa tradição espiritual que aquele espaço carrega. A única coisa que se ouve ali é o som do silêncio — um convite para contemplar e se desconectar do ritmo acelerado do mundo lá fora.

Caminhei devagar, apreciando cada detalhe, e depois segui para os jardins ao redor, que complementam a sensação de paz e reflexão. Os jardins são cuidadosamente mantidos, com um perfume sutil que acompanha a brisa suave, tornando o passeio ainda mais especial.

Visitar esse lugar não é só ver, é sentir — uma experiência que permanece marcada na memória pela serenidade e beleza que ali se encontram.

Fotos do mirante peace view e estatuas no topo do monte em Haifa.
Fotos do mirante peace view e estatuas no topo do monte em Haifa.

Peace View: Um Mirante, Uma Escultura e o Mediterrâneo

Aqui também vale a visita ao Peace View, um mirante que recompensa quem se aventura até lá com uma vista panorâmica simplesmente inesquecível. De lá, é possível abraçar com o olhar a cidade inteira, o porto movimentado e o azul infinito do Mar Mediterrâneo.

O Peace View oferece uma sensação de amplitude e tranquilidade que combina perfeitamente com o clima sereno que permeia Haifa. É o tipo de lugar onde o silêncio conversa com a vastidão da paisagem, convidando a uma pausa profunda para apreciar a conexão entre terra, mar e céu.

Além de ser um excelente ponto para fotos memoráveis, o Peace View tem um simbolismo especial para a cidade, refletindo a coexistência pacífica e a diversidade cultural que marcam Haifa.

Se estiver explorando a área dos Jardins Bahá’í ou Stella Maris, vale a pena reservar um tempo para passar pelo Peace View e absorver essa energia única que o lugar emana.

A poucos passos dali, em meio às áreas verdes do parque que contorna o mirante, estão algumas esculturas em pedra posicionadas de forma discreta, mas significativa. Uma delas — que me marcou especialmente — está voltada para a paisagem, como se também contemplasse o horizonte. É uma figura de perfil clássico, erguida num ponto elevado, como uma sentinela silenciosa diante do mar.

Não há placas nem explicações formais, mas sua presença parece dialogar com tudo ao redor: o cenário urbano que se estende abaixo, os jardins cuidadosamente desenhados, o santuário ao longe. Uma pausa diante dela reforça a sensação de que, em Haifa, até a arte parece estar em comunhão com a paisagem.

Vista do teleférico e observatório em Stella Maris, Haifa.
Vista do teleférico e observatório em Stella Maris, Haifa.

Observatório São Francisco no Monte Carmelo

No topo do Monte Carmelo, próximo ao Mosteiro de São Francisco (Stella Maris) e ao mirante Peace View, está o Observatório São Francisco.

Esse observatório é uma instalação científica dedicada à astronomia, mas não é aberto ao público para visitas internas — funciona mais como um centro de pesquisa. Portanto, quem visita essa área pode apreciar as vistas incríveis e a atmosfera tranquila do local, mas não entra no observatório em si.

O teleférico que sobe o Monte Carmelo passa por perto e é uma das formas mais populares de chegar ao topo, embora eu tenha preferido subir de táxi, evitando as longas filas que vi ali.

Da Contemplação ao Cotidiano: Descendo para a Cidade Antiga

Iniciamos a descida do Monte Carmelo em direção à parte mais antiga de Haifa. A vista panorâmica e aberta do mar e do porto fica para trás — essas são, de fato, um privilégio lá de cima. À medida que o táxi desce, o cenário muda: as encostas verdes e os espaços abertos dão lugar a ruas mais estreitas, com construções antigas e comércios discretos que carregam um ar de tempo preservado.

Não há um ponto turístico específico ali, mas sim uma atmosfera: fachadas que guardam silêncios antigos, moradores indo e vindo, e aquela sensação de que a cidade continua vivendo no seu próprio ritmo, alheia ao fluxo de visitantes. A transição entre a espiritualidade do alto e o cotidiano terreno acontece de forma quase simbólica — e esse contraste foi uma das partes mais marcantes da experiência.

Fotos da cidade antiga em Haifa.
Fotos da cidade antiga em Haifa.

A Descoberta Continua: Chegando à Cidade Velha de Haifa

Presença militar e sensação de segurança

Chegando à Cidade Velha, fica clara a maneira como Haifa se constroi em camadas. É aqui que está o acesso inferior aos Jardins Bahá’í, no coração de um bairro que pulsa com vida local. A transição do topo do Monte Carmelo até essa base histórica não exige lógica nem direção obrigatória: tudo se encaixa de forma fluida, como se a cidade tivesse sido moldada pela própria paisagem.

As ruas estreitas revelam outro ritmo. Vi gente indo e vindo, moradores cuidando da rotina, pequenas lojas abertas, cafés funcionando com naturalidade. O turismo existe, mas não domina. E ali também estavam os jovens soldados em pontos estratégicos, como parte do cotidiano — uma presença discreta, mas constante.

Na época em que estive lá, não havia tensão no ar, apenas o lembrete silencioso de que Israel é um país onde a vigilância e a normalidade caminham juntas. E, imagino que, nos dias de hoje, essa presença seja ainda mais visível — não de forma hostil, mas como parte inseparável da paisagem urbana.

Arquitetónicamente, essa parte de Haifa — conhecida como Haifa al-‘Atiqah — conserva traços do período otomano, com construções mais baixas, de linhas simples, materiais locais e fachadas que revelam o tempo. É um estilo sóbrio, funcional, marcado por arcos, varandas discretas e tons terrosos.

Essa arquitetura antiga convive hoje com elementos mais recentes, criando um contraste que não choca — pelo contrário, dá ao bairro uma identidade híbrida, resultado da sobreposição de culturas e épocas.

E como os Jardins Bahá’í descem desde o alto até essa parte da cidade, você pode começar o passeio de cima ou de baixo — tanto faz. O mais bonito de Haifa é justamente essa continuidade entre os níveis e a forma como as paisagens, as histórias e os estilos de vida se fundem no caminho.

Vista do parque Rosh Hanikra em Israel.
Vista do parque Rosh Hanikra em Israel.

Excursões Mais Procuradas a Partir de Haifa: Distâncias, Ritmo e Escolhas

Para quem chega de navio em Haifa e tem apenas um dia para explorar, as opções de excursão são muitas — e o tempo disponível é o fator decisivo para escolher entre elas.

A saída mais próxima e clássica é o tour até Nazaré e o Mar da Galileia. Essa combinação é ideal para quem quer se conectar com os cenários do Novo Testamento sem enfrentar deslocamentos muito longos. Nazaré fica a cerca de 45 km de Haifa, e boa parte das excursões organizadas dura em torno de 8 horas, incluindo paradas em locais emblemáticos como a Basílica da Anunciação, o Mar da Galileia e Cafarnaum. É uma rota tranquila, com um bom equilíbrio entre conteúdo histórico e tempo de estrada.

Já quem opta por Jerusalém precisa se preparar para um ritmo mais intenso. São aproximadamente 150 km entre Haifa e Jerusalém, o que exige tours de 11 a 12 horas — tempo necessário para dar conta dos principais pontos da Cidade Velha, do Muro das Lamentações ao Santo Sepulcro, passando pelo Monte das Oliveiras. É praticamente uma maratona histórica. Esse tipo de passeio precisa, obrigatoriamente, ser guiado se você quiser aproveitar cada parada sem se perder nos caminhos ou nas filas. Em outro momento, falo com mais profundidade sobre a minha visita a Jerusalém — porque aquela cidade exige outro tipo de narrativa.

Mas Haifa também oferece alternativas mais leves e surpreendentes para quem prefere algo mais próximo, como Acre e Rosh Hanikra.

Acre e Rosh Hanikra: O Tour Que Deixei Para Depois

Oportunidades incríveis para uma próxima visita

Esse é, sem dúvida, um dos roteiros mais práticos saindo de Haifa — ideal para quem quer explorar algo impactante, voltar com o dia bem aproveitado e sem os longos deslocamentos das excursões mais distantes.

Os túneis dos templários em Acre e as cavernas brancas de Rosh Hanikra, esculpidas pelo mar bem na fronteira com o Líbano, formam um contraste fascinante entre história e paisagem natural. Acre (ou Akko) fica a cerca de 25 km do Porto de Haifa, o que dá uns 40 minutos de carro dependendo do trânsito. Rosh Hanikra está um pouco além, a cerca de 50 km do porto, então dá para considerar uma hora e meia de trajeto até lá, considerando as paradas.

Esse tour me foi sugerido ali na hora, pelo próprio taxista que me levou aos Bahá'í Gardens. Foi tentador, confesso. Mas preferi ficar em Haifa naquele dia. E hoje, olhando para trás, é um passeio do qual me arrependo de não ter feito. Faltou pouco para eu embarcar nessa rota — e se você tiver tempo e interesse, recomendo com todas as letras.

O acesso às cavernas de Rosh Hanikra é feito por um bondinho que desce pela encosta (e o visual ali é coisa de cinema). A entrada não é gratuita, mas o valor é acessível e inclui o passeio de teleférico, a visita às cavernas e uma pequena exibição audiovisual sobre a história do local. Já em Acre, boa parte do centro antigo é livre para caminhar, mas há ingressos separados para entrar nas fortificações, salões cruzados, túneis dos templários e o mercado subterrâneo — então é bom ter algum planejamento ou ir com um guia que já organize essas paradas.

Esse é aquele tipo de tour que funciona muito bem com as excursões oferecidas pelos navios, especialmente para quem quer fazer tudo com calma e com as entradas já resolvidas. Mas se quiser explorar por conta, também é possível — só não deixe para decidir na última hora, como eu fiz.

Vista da praia de Carmel em Haifa.
Vista da praia de Carmel em Haifa.

Haifa tem Praias? Tem Sim — Mas Não Foi Meu Caso

Nos meus dias em Israel, explorar a costa não foi prioridade. Se estivéssemos falando do Mar Morto, talvez eu até tivesse considerado, mas em Haifa, com tanta coisa para ver, as praias acabaram ficando pra uma outra oportunidade. Ainda assim, se a sua vibe for mais tranquila e você estiver em busca de um canto para descansar, o mar está logo ali — e a cidade tem, sim, boas opções.

Carmel Beach é a mais conhecida. Fica a uns 8 km do porto e é o tipo de praia que agrada a quem quer estrutura, cafés, restaurantes e aquele pôr do sol com cara de cartão-postal. Dá para chegar rápido de táxi ou até de trem.

Bat Galim, bem mais próxima, tem aquele jeitão local. A cerca de 2 km do porto, dá para encarar a caminhada se o calor permitir. Costuma ser frequentada por quem pratica windsurf, e apesar de não ser tão turística, tem seu charme simples e direto.

Dado Beach já é um pouco mais afastada, mas oferece uma boa faixa de areia, um calçadão gostoso de caminhar e uma atmosfera mais calma. Também está na casa dos 8 km de distância.

Se você quer só esticar a canga, ouvir o som do mar e dar um tempo do movimento do porto, pode ser uma boa pedida. Mas reforço: no meu roteiro, Haifa foi feita para andar, explorar, subir e descer degraus — por isso não estiquei a toalha na areia.

Vista da cidade de Haifa do Monte Carmelo.
Vista da cidade de Haifa do Monte Carmelo.

Quando ir para Haifa? Clima e Temporadas

Minha visita foi em novembro — e, para mim, foi uma época excelente. As temperaturas estavam agradáveis, nem aquele sol estalando que te faz correr para sombra, nem o frio que incomoda. Era o tipo de clima ideal para caminhar, explorar, subir os jardins e aproveitar cada vista com calma.

De modo geral, a melhor época para visitar Haifa vai de março a maio ou entre setembro e novembro. O verão costuma ser bem quente e seco, e o inverno pode trazer dias nublados e um pouco mais de vento, mas nada extremo. Se você quer andar pela cidade e fazer os passeios com mais conforto, fuja dos meses de calor intenso — especialmente julho e agosto.

Temporada de Cruzeiros em Israel: O Que Você Precisa Saber

Israel é um destino fascinante para cruzeiros, mas a temporada por lá costuma ser bastante imprevisível. Se você embarcar num cruzeiro temático ou com roteiro pelo país, é importante ter em mente que qualquer porto pode ser cancelado ou alterado a qualquer momento — especialmente se houver alguma ameaça ou conflito interno.

Na temporada que estive em Israel, vi de perto vários cancelamentos e desvios de rota sem aviso prévio. Mesmo com esses riscos, o destino é tão desejado que visitantes e tripulantes não querem abrir mão da experiência.

Atualmente, com os conflitos entre Israel e Gaza, navios ainda seguem para o país, mas a possibilidade de cancelamento persiste. Quando isso acontece, as companhias de cruzeiro, na maioria das vezes, não têm muito o que fazer além de oferecer um crédito interno para gastar a bordo, dependendo da política de cada navio.

Minha experiência foi assim: só consegui conhecer tudo que visitei porque retornei aos mesmos portos em diferentes temporadas ao longo dos anos — uma repetição que valeu muito a pena. E, sinceramente, só não fiz os passeios que mencionei — como Acre, Rosh Hanikra ou Tel Aviv — na minha primeira parada em Haifa porque o tempo era curto e a escolha teve que ser feita ali, no momento. Infelizmente, isso aconteceu em outros portos também. Mas faz parte da vida a bordo. Nem todo dia tem passeio, e às vezes é o navio que dita o ritmo. A boa notícia é que os destinos não mudam — e se você voltar, pode (re)descobri-los com outro olhar.

Na época, preferi explorar a cidade com calma, absorver o clima e caminhar por Haifa. E foi ótimo. Mas hoje sei que teria sido possível encaixar mais. Se você tiver apenas uma chance, vale pesar bem seus interesses. Israel é um daqueles lugares onde, por mais que você ande e veja, a sensação é de que ainda não viu tudo — sempre sobra um pedaço pra próxima vez.

Foto da autora degustando pizza em Haifa.
Foto da autora degustando pizza em Haifa.

Gastronomia em Haifa: Um Sabor Para Sempre

Haifa não foi um daqueles portos em que eu fui sentar num restaurante com vista ou me programar para provar algo específico. Mas foi justamente ali que vivi uma das experiências gastronômicas mais marcantes da viagem.

No fim de um passeio, meu taxista virou e perguntou: “Você está com fome? Se não se importar, posso te levar onde eu costumo comer.” Claro que aceitei — e foi a melhor escolha. Nada turístico, nada sofisticado. Um café tradicional, simples, sem luxo algum. Mas com aquele clima de comida feita com verdade.

Sou suspeita quando o assunto é aroma e sabor — gosto de provar de tudo. Mas o que comi ali superou qualquer expectativa. Era algo entre um pão e uma pizza: massa fina, leve, com textura de quem foi sovada com carinho, quase como se tivesse passado pelas mãos dos deuses. Coberta com um queijo branco assado no forno a lenha, quente, crocante nas bordas e com um sabor difícil de explicar. Simples e delicioso. E o melhor: baratíssimo.

Comi ali mesmo, no balcão, mas não resisti — comprei mais dois e levei comigo. Fui comendo ao longo do caminho, como quem sabe que está vivendo um daqueles momentos que a gente não esquece.

Algum tempo depois, voltei a Haifa. Tentei refazer o caminho, procurei o mesmo lugar, até perguntei — mas não encontrei o café e nem o taxista. Então ficou assim: guardado na memória como um sabor único, que nunca mais experimentei em lugar nenhum. Um daqueles encontros simples, intensos e sem nome, que fazem parte do melhor das viagens.

Foto da autora nos jardins em Haifa.
Foto da autora nos jardins em Haifa.

Impressões Finais: Haifa, Um Porto Que Deixa Marcas

Haifa é simplesmente imperdível se você estiver passando por Israel. Claro que não dá para fazer tudo em um único dia, muito menos combinar uma excursão distante e ainda aproveitar a cidade com calma. Mas se o seu cruzeiro percorre a costa israelense, vale entender a lógica: ancorando em Ashdod, o acesso mais prático é para explorar Jerusalém. Já se o porto for Haifa, aí você escolhe — ou fica pela cidade ou parte para conhecer Nazaré e a Galileia.

De toda forma, qualquer que seja o caminho que você decidir seguir, dificilmente vai esquecer. Israel não é um destino que se limita a um carimbo no passaporte. É um país que marca — profundamente. Uma experiência que gruda na memória e na alma.

No quesito segurança, é um país tranquilo para caminhar e andar pelas ruas. Você não vai ficar preocupado com furtos ou situações desconfortáveis. Claro que, em cidades como Jerusalém, vale ficar mais atento aos arredores — é uma cidade séria, densa, onde o clima não é exatamente o mais sorridente, exceto pelos guias ou vendedores com quem você consegue se comunicar. Mas não decepciona.

Haifa, por outro lado, me acolheu. Desde a primeira vez que estive aqui, senti um conforto difícil de explicar. E não falo só do visual ou da organização — falo de um sentimento de bem-estar mesmo. O povo, judeus e árabes, é extremamente educado, na deles, mas você sente receptividade, especialmente nos pequenos comércios e cafés locais.

Em termos de custo, não é mais caro do que destinos populares da Europa. É acessível, dentro dos padrões turísticos. Comer fora não pesa, especialmente se você se permitir viver experiências simples, como a que eu vivi — comer no café do taxista foi uma das melhores decisões. Saiu barato, foi autêntico e me deixou uma lembrança que carrego até hoje.

Souvenirs, postais, lojinhas: tudo espalhado de forma natural, sem aquela pressão comercial que a gente sente em outros lugares. Diferente de Jerusalém, onde certas rotas de passeio já te conduzem direto à área de compras, aqui você escolhe o que quer ver e comprar com mais liberdade.

Em termos práticos, é importante lembrar que em Haifa, Israel, a moeda local, o shekel israelense, é essencial para pequenas compras. Se você optar por pagar em dólar — mesmo que aceitem — vai acabar recebendo o troco em shekel, e aí perde na conversão. Em lojas menores, restaurantes simples e comércios locais, usar dólar pode ser complicado, enquanto o cartão de crédito é amplamente aceito e facilita muito. Sobre a língua, o inglês é bastante falado, mas saber algumas palavras em hebraico pode ajudar, especialmente em lugares menos turísticos.

Haifa me deixou algo que sei que jamais vou esquecer. Um porto que virou lugar de memória, de aprendizado, de respeito. Levo comigo não só o carinho por essa cidade, mas por toda a nação de Israel.

Um destino de tirar o fôlego, não achou?

Se você gostou de me acompanhar nessa parada por Haifa, continue explorando os outros destinos aqui no blog — tem muita história, paisagem e experiência boa esperando por você. E olha, cada uma com seu charme único. Até a próxima!