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Canal de Suez: História, Impactos e a Magia de Atravessá-lo em um Cruzeiro
O Canal de Suez é uma das passagens marítimas mais icônicas do mundo, conectando o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. Símbolo de engenharia e de impacto global, ele evidencia o poder humano de moldar a geografia e transformar a economia. A travessia em um cruzeiro revela sua história fascinante, sua importância estratégica e as emoções únicas de navegar por essa obra-prima da engenharia.
ÁFRICAEGITOCANAL DE SUEZMAR MEDITERRÂNEO
The Roaming Purser
11/21/202411 min read


Canal de Suez: A Travessia de Cruzeiro Que Une História e Paisagens Hipnotizantes
A entrada em Porto Said e o despertar do deserto
Cruzar o Canal de Suez a bordo de um cruzeiro é muito mais do que seguir uma rota no mapa. É uma experiência sensorial e histórica que envolve o viajante desde o instante em que o navio se aproxima da entrada norte, em Porto Said. Ao subir ao deck, o olhar se perde na vastidão do deserto do Sinai, com dunas douradas refletindo a luz suave do amanhecer. Nas margens, pequenos vilarejos surgem como pontos de vida no cenário árido, onde palmeiras, casas simples e mesquitas adicionam ritmo e cor a uma paisagem que mistura dureza e beleza.
A travessia em comboios e o convite à contemplação
O navio avança lentamente, sempre em comboios organizados, seguindo regras rígidas de navegação que regem um dos canais mais estratégicos do mundo. Esse ritmo pausado transforma a travessia em um convite à contemplação. Cada detalhe se revela e o silêncio quase absoluto do deserto, quebrado apenas pelo som distante dos motores e pelo sopro contínuo do vento.
Por: Elisa Magalhães
História viva a cada quilômetro
O Canal de Suez foi construído entre 1859 e 1869 sob a liderança do engenheiro francês Ferdinand de Lesseps, mudando para sempre a lógica do comércio marítimo. Pela primeira vez, navios puderam navegar entre Europa e Ásia sem contornar o Cabo da Boa Esperança, reduzindo distâncias e redefinindo rotas globais. Ao longo da travessia, percebe-se a grandiosidade da obra: 193 quilômetros de engenharia cortando o deserto egípcio, conectando diretamente dois oceanos e permitindo a circulação de cerca de 12% do comércio marítimo mundial.
O esforço humano por trás da obra
A história do canal também revela o peso do esforço humano. Estima-se que cerca de 1,5 milhão de trabalhadores egípcios participaram da construção, enfrentando condições severas, doenças e exaustão ao longo de uma década de trabalho árduo. Cada quilômetro percorrido guarda traços da resistência e do sacrifício de milhares de vidas.
A expansão e a relevância no presente
Em 2015, uma ampliação monumental dobrou a capacidade em trechos críticos, garantindo maior fluidez ao tráfego de navios e reafirmando a posição estratégica do canal no cenário global. Para os passageiros de cruzeiros, o impacto é muitas vezes explicado em palestras a bordo, contextualizando como esta via continua a moldar a economia e a geopolítica mundial. Assim, cada travessia se torna uma imersão na forma como história e modernidade caminham lado a lado.




Paisagens e a vida ao longo da travessia
A passagem pelo Canal de Suez oferece cenários que se desdobram lentamente diante dos passageiros. Do deck, cada quilômetro revela uma nova face do Egito: cidades portuárias, vilas coloniais, mesquitas erguidas em tons de areia, pontes monumentais e a vastidão do deserto ao fundo. Além disso, a vida cotidiana das margens se mantém visível e ativa: pescadores locais lançam suas redes, praticando técnicas que se transmitem de geração em geração, e as comunidades ainda dependem da pesca como fonte de sustento e tradição. Pequenos barcos cortam o canal, enquanto crianças acenam e moradores seguem sua rotina, lembrando que, mesmo em meio a uma das rotas marítimas mais estratégicas do mundo, a vida simples e resistente continua pulsando.
A travessia se transforma, assim, em um mosaico de história, arquitetura e vida cotidiana, onde passado e presente se entrelaçam em cada detalhe observado do deck.
Porto Said: a porta de entrada
Ao norte, a cidade de Porto Said se apresenta como o primeiro espetáculo da viagem. A orla histórica, marcada por jardins públicos e casas do século XIX, reflete a combinação entre tradição e modernidade. O destaque vai para o Farol de Porto Said, de 56 metros de altura, octogonal e construído em concreto armado. Inaugurado em 1869, guiava embarcações desde a abertura do canal e permanece como símbolo da engenharia. Do deck, observar o farol com o sol refletindo nas águas e a cidade ao fundo é sentir a história viva diante dos olhos.
Vilas coloniais preservadas, minaretes que recortam o horizonte e a rotina simples dos moradores completam a paisagem. O ritmo calmo da travessia permite absorver cada detalhe, sempre emoldurado pelo silêncio do deserto.


Ismailia: entre lagos e heranças coloniais
Mais ao sul, surge Ismailia, cidade que guarda o charme da época colonial. O Lago Timsah reflete o céu e oferece aos passageiros uma visão calma e inspiradora. Às margens, vilas e ruas exibem casas coloniais francesas e edifícios coptas, testemunhos da diversidade cultural que moldou a cidade.
A Casa de Ferdinand de Lesseps, antiga residência do cônsul francês, preserva detalhes originais do século XIX, enquanto a Igreja Copta se destaca com suas cúpulas cruzadas, símbolo da religiosidade local. Do deck, é possível admirar gramados bem cuidados, árvores alinhadas e bairros que se estendem ao longo das margens, compondo um retrato autêntico da convivência entre história e vida cotidiana.
Durante a travessia, muitas companhias oferecem palestras a bordo sobre o impacto estratégico do canal, mencionando episódios como a crise de 1956 e a expansão de 2015. Mas o maior espetáculo continua sendo o simples deslizar do navio pelo lago e pelas margens habitadas, onde passado e presente se entrelaçam de forma silenciosa.


Suez: o encontro da África com a Ásia
Na extremidade sul do Canal de Suez, ergue-se a monumental Ponte do Canal de Suez, conhecida como Ponte da Paz Mubarak ou El-Qantara, construída em 2001. Seus pilares maciços, apoiados em cada margem do canal, conectam fisicamente os continentes da África e da Ásia, simbolizando o esforço humano de unir mundos. Com aproximadamente 1,5 km de extensão e altura suficiente para a passagem de grandes navios, a ponte integra engenharia moderna e funcionalidade estratégica.
O nome “Ponte da Paz” reflete a intenção de simbolizar a ligação pacífica entre continentes e culturas, enquanto “El-Qantara” significa “a ponte” em árabe, reforçando seu papel como conexão física e simbólica. Do deck do navio, deslizar sob sua estrutura permite perceber a grandiosidade da obra e a importância estratégica desta travessia, consolidando o Canal de Suez não apenas como rota navegável, mas como experiência única que combina história, paisagem e arquitetura.


A presença de outros navios
Ao longo da travessia, percebe-se o contraste entre a calma serena do deck e a intensidade do movimento no canal. Navios de guerra patrulham discretamente, impondo vigilância e segurança, enquanto longos comboios de embarcações mercantes avançam em fila organizada, carregando contêineres que sustentam o comércio mundial.
Gigantescos petroleiros deslizam lentamente, lembrando a importância vital do canal para o transporte de energia e a economia global. Ao lado deles, cruzam navios porta-contêineres, cargueiros a granel e embarcações menores, todos seguindo o mesmo caminho. Pequenas vilas entre palmeiras e mesquitas surgem e desaparecem ao longo da rota, trazendo humanidade à travessia: comunidades vivendo lado a lado com esta artéria global. O resultado é a sensação única de estar no meio de um corredor vivo de história, estratégia e paisagem.


Experiência a bordo: ritmo e contemplação
O grande diferencial da travessia está na própria experiência a bordo. Durante as 12 a 16 horas de navegação, o ritmo lento permite absorver com calma os detalhes do trajeto, transformando a travessia em um espetáculo contínuo.
Mesmo em cabines com varanda, o convite é subir ao deck, sentir o vento do deserto e observar dunas douradas, vilarejos discretos e construções históricas. Guias especializados compartilham curiosidades sobre geopolítica e comércio global, revelando como cada navio faz parte de um fluxo vital para a economia do mundo.
O ambiente é único: de um lado, o silêncio imponente do deserto; de outro, a movimentação constante de embarcações de diferentes portes. Esse contraste imprime à travessia uma atmosfera que mistura contemplação e atividade, equilíbrio e movimento.
Cada quilômetro oferece oportunidades para fotografar, usar binóculos e testemunhar a vida cotidiana das margens, onde o simples se mistura à monumentalidade da engenharia e da história.


A travessia do canal vista do convés
Diferente de outros canais com eclusas, como o Canal do Panamá, o Canal de Suez mantém nível constante de água, permitindo que os navios avancem suavemente, como se deslizassem sobre uma fita líquida cortando o deserto. Cada quilômetro revela nuances captadas apenas do deck: o brilho dourado das dunas ao entardecer, o contraste das vilas que surgem e desaparecem e o deslizar silencioso de barcos locais ao lado das imensas embarcações de carga.
O tempo parece desacelerar. O passageiro, livre da pressa, percebe a precisão do tráfego, a disciplina dos comboios e a constante sensação de estar em um corredor estratégico que une continentes e histórias. Cada instante no convés se transforma em lembrança vívida, narrando pessoalmente a travessia por uma das passagens marítimas mais icônicas do mundo.


A experiência a bordo durante a travessia do Canal de Suez
A rotina a bordo assume um ritmo especial. Enquanto parte dos passageiros acompanha palestras e apresentações, outras áreas mantêm a programação habitual. Piscinas, spas, bares e entretenimento seguem ativos, permitindo que cada viajante escolha como vivenciar o dia marcante.
No deck aberto, um café da manhã com o deserto do Sinai como pano de fundo torna-se memorável. Alguns navios oferecem serviços de spa a céu aberto, permitindo relaxar enquanto se contempla o movimento incessante dos comboios, vilas e dunas.
Essa multiplicidade de vivências transforma a travessia em algo maior que uma simples passagem entre mares. Aprendizado, contemplação e lazer se encontram em equilíbrio, criando para cada passageiro uma narrativa própria. O que se vê do deck não é apenas rota estratégica ou obra de engenharia, mas a integração de história, paisagem e conforto em um só instante.


Cruzeiros pelo Canal de Suez: partindo do Mediterrâneo ao Oriente Médio
A travessia do Canal de Suez a bordo de um cruzeiro é memorável, inserida em rotas que conectam Mediterrâneo ao Oriente Médio e Ásia, mesclando história, paisagem e cultura. Muitos navios partem de portos históricos como Civitavecchia ou Piraeus, permitindo contemplar ilhas gregas antes do deserto egípcio.
Após cruzar o canal, os navios seguem para destinos icônicos como Dubai e Aqaba, porta de entrada para Petra. Alguns itinerários se estendem para Muscat, Haifa ou retornam a Atenas, conectando civilizações antigas e modernas em paisagens fascinantes. Cada parada equilibra navegação, atividades a bordo e experiências culturais em terra, mesclando contemplação, aprendizado e prazer em uma única viagem.


Temporada de Cruzeiros
O Canal de Suez recebe cruzeiros ao longo de praticamente todo o ano, com maior intensidade entre outubro e abril, quando as condições climáticas são mais amenas e o calor desértico é menos intenso. Companhias renomadas, como Royal Caribbean, MSC Cruises e outras linhas internacionais, incluem o canal em itinerários que conectam o Mediterrâneo ao Oriente Médio, que podem estender-se por 7 a 14 dias.
Taxas de Passagem e Custos de Navegação
O valor da passagem para navios que cruzam o canal pode variar bastante de acordo com o tipo de embarcação. Navios de cruzeiro pagam, em média, entre US$ 100.000 e US$ 500.000 por travessia, dependendo do tamanho e das características da embarcação. Já os navios maiores, como petroleiros e cargueiros, podem enfrentar taxas significativamente mais altas, que podem ultrapassar US$ 1 milhão.
Mudanças Recentes e Rotas Alternativas
Desde o final de 2023, algumas companhias de cruzeiro têm evitado o Canal de Suez em itinerários de reposicionamento, optando por contornar a África. Essa rota alternativa adiciona até duas semanas de navegação, elevando significativamente os custos e a complexidade operacional. Estimativas apontam que, para linhas como a MSC Cruises, evitar o Mar Vermelho pode representar mais de US$ 50 milhões em custos adicionais, devido à dificuldade de manter serviços de passageiros e escalas programadas ao longo de uma rota tão extensa.
Essa realidade demonstra como a travessia do Canal de Suez continua sendo estratégica não apenas historicamente, mas também economicamente, impactando decisões de itinerários, custos operacionais e planejamento de cruzeiros de luxo.


Clima e Temperatura ao Longo do Canal de Suez
O clima ao longo do Canal de Suez é tipicamente desértico, refletindo a proximidade do deserto do Sinai. Durante o verão, entre junho e agosto, o calor se torna intenso, com temperaturas frequentemente ultrapassando 40°C, tornando o deserto um cenário abrasador sob o sol escaldante. No inverno, de dezembro a fevereiro, o clima amansa, oferecendo médias entre 18°C e 25°C, criando condições mais agradáveis para observar a paisagem e a vida local sem o peso do calor extremo. Nas áreas mais próximas ao deserto, as temperaturas atingem extremos que impressionam mesmo os viajantes mais acostumados ao calor.
Ventos e a Atmosfera do Deserto
A região é marcada por ventos fortes, especialmente na primavera e no outono, que moldam a paisagem e influenciam a travessia. Os ventos do deserto não apenas aumentam a sensação térmica, mas podem trazer tempestades de areia ocasionais, reduzindo a visibilidade e oferecendo um espetáculo natural quase místico, ao mesmo tempo que desafiam a navegação. Observar o canal sob essa atmosfera é perceber como a natureza se entrelaça à engenharia humana, tornando cada quilômetro percorrido mais dramático e inesquecível.
Fuso Horário e Conexão Global
O Canal de Suez segue o Horário Padrão do Egito (EET), UTC +2, situando-o cinco horas à frente de São Paulo (BRT, UTC -3). Esse detalhe simples, mas relevante, lembra aos passageiros a conexão do Egito com o mundo e como cada travessia está inserida em rotas globais, unindo continentes, culturas e economias de maneira precisa e estratégica.


Conclusão: Uma Travessia que Une História e Paisagem
Cruzando o Canal de Suez, percebe-se que não se trata apenas de uma viagem, mas de um verdadeiro encontro com a história, a geopolítica e a grandiosidade do mundo natural. Para mim, cada travessia a bordo de um navio de cruzeiro foi um momento de aprendizado e admiração, onde o ritmo vagaroso da navegação, as paisagens contrastantes e a energia única do lugar deixam uma marca permanente em qualquer viajante.
Seja você um apaixonado por história, um entusiasta da engenharia monumental ou alguém que simplesmente aprecia paisagens de tirar o fôlego, o Canal de Suez oferece experiências singulares. E para aqueles que têm a sorte de cruzá-lo em um cruzeiro, a travessia se torna ainda mais enriquecedora — uma jornada que combina conforto, descoberta e um olhar privilegiado sobre uma das passagens marítimas mais importantes do planeta.
Muito obrigada por me acompanhar nessa viagem. Cada quilômetro do canal revela histórias e cenários que permanecem na memória. Se atravessar o Canal de Suez despertou em você a grandiosidade dessa rota histórica, que tal continuar navegando por novas histórias e destinos surpreendentes? Explore o blog e descubra viagens que vão além do esperado, onde cada jornada se transforma em uma experiência única.



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